Mobilidade urbana

Sexta-feira, 09 de Abril de 2021


Um dos maiores problemas das médias e grandes cidades do mundo tem sido a mobilidade urbana. De difícil solução e fonte de prejuízos de ordem econômica, social, de saúde e segurança. Virou tabu para entes federativos sem recursos suficientes e cidades centenárias com vias públicas estreitas, visto que as intervenções urbanas exigem altos investimentos em obras e desapropriações, além de vencer restrições culturais e ambientais.

No Brasil, temos outro grande problema. Ignorando a dimensão continental do nosso País, governos, desde Vargas, abraçaram o modelo de desenvolvimento econômico ancorado na indústria automobilística, em detrimento do modal ferroviário que foi esfacelado até o sucateamento total. Perdemos o equilíbrio necessário entre os sistemas de transportes.

Nossa Mogi das Cruzes/SP não foge à regra. Quando assumimos a Prefeitura, em 2001, moldamos o desenvolvimento e as demandas da população a partir do PGP – Plano de Governo Participativo. Visitamos cada palmo da Cidade para ouvir a comunidade, em reuniões noturnas. Modéstia à parte, reputo que fomos eficientes e felizes.

Todas as reivindicações da comunidade foram analisadas pelo grupo de trabalho (15 especialistas voluntários), sob a coordenação dos eficientíssimos Mel Tominaga, jornalista/comunicadora social, e João Francisco Chavedar, arquiteto/urbanista. Todos tinham qualidades excepcionais, como sensibilidade, dedicação, competência e lealdade. Desta cruzada, nasceu o PGP, um autêntico Plano Diretor. Na posse como prefeito, em 1º de janeiro de 2001, já tínhamos selecionado e convidado os futuros colaboradores da administração, com a missão de cumprirem por inteiro o PGP e agregarem valores necessários. Evidentemente, a Mel assumiu a Comunicação Social e o Chavedar, o setor de planejamento urbano, em meio a dezenas de profissionais formidáveis.

Realizamos uma verdadeira revolução administrativa, numa demonstração inequívoca de respeito à vontade da comunidade que acreditou e nos apoiou integralmente. Coube à criada Secretaria de Transportes e órgãos subordinados a hercúlea tarefa de implementar programas, como os de mobilidade urbana. No transporte coletivo, imediatamente, implantamos a tarifa única, visto que a permissionária, com 65 anos de atuação, praticava a cobrança de passagens conforme a distância percorrida. Por exemplo, quem residia nos distritos de Quatinga, Taiaçupeba, Sabaúna e Biritiba Ussu pagava três vezes mais caro pela passagem em comparação com moradores de bairros periféricos, como Alto do Ipiranga, Jardim Camila e Mogi Moderno. Situação semelhante ocorria nos distritos de Jundiapeba, Braz Cubas e Cezar de Souza.

Sob o comando do amigo e competentíssimo Cel. Nobuo Aoki Xiol, a pasta de Transportes implantou o programa de modernização da frota (ônibus com, no máximo, de três anos de uso), o cartão magnético para pagamento de tarifa, o transporte escolar em total conexão com a Secretaria Municipal de Educação – comandada pela inigualável Professora Maria Geny Borges Ávila Horle –, o passe escolar, cartão do idoso para isentar a tarifa a partir de 65 anos, ônibus acessíveis para pessoas com necessidades especiais, construção do terminal de passageiros no Mogilar, entre outros. Também cumprimos a Constituição Federal extinguindo o monopólio de 65 anos da permissionária. Após concorrência pública, as duas vencedoras iniciaram a atividade de transporte público em 2005, seguindo o dispositivo legal que estabelecia vigência contratual de 5 anos e nova concorrência pública por idêntico período. Em acordo amigável, também extinguimos o transporte alternativo (perueiros), reorganizamos o serviço de taxistas, com acréscimo de inúmeros pontos e padronização dos veículos.

Contudo, vejo como grande investida de mobilidade urbana a implantação das inéditas ciclovias e ciclofaixas. Era um tempo em que essas estruturas existiam em pouquíssimos municípios. Não eliminava a falta de mobilidade urbana mas, com certeza, contribuía muito com moradores de bairros mais afastados do centro, que se deslocavam de bicicleta.

A primeira foi implantada na Av. Gov. Adhemar de Barros Filho (diminuindo a faixa para veículos) para ligar o Centro com o Distrito de Jundiapeba, numa extensão de 4,9 mil metros, margeando os trilhos da Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM).

A segunda foi na Av. Francisco Rodrigues Filho (após a duplicação da via e construção de ponte sobre o Rio Tietê), utilizando a calçada esquerda, ligando o Centro a Cezar de Souza, numa distância de 1,845 mil metros. Essa rota atende os moradores do Distrito, como também os frequentadores do Parque Centenário.

A terceira foi na Av. Engº Miguel Gemma (após a duplicação da via), utilizando o canteiro central, para conectar a R. Júlio Perotti (Jardim Armênia) com os moradores da região, inclusive do Conjunto Habitacional Toyama, localizado Rod. Mogi/Salesópolis, num trecho de 1,5 mil metros.

Portanto, as três estruturas implantadas em nossas duas gestões como prefeito somam 8,245 mil metros. Sofrem críticas porque são de construção modesta. Fato é que em 2001, quando assumimos, Mogi das Cruzes de 441 anos não tinha uma única ciclovia/ciclofaixa, sob a justificativa de apresentar vias muito estreitas.

Nosso consolo é que, passados de 15 a 20 anos de sua implantação, as estruturas lá se encontram da forma concebida, prestando serviços à população. As ciclovias são fundamentais para melhorar a mobilidade urbana. Pesquisa oficial demonstra que, nos últimos seis meses, houve um crescimento de 66% na utilização de bicicletas na Capital paulista.

Apoio integralmente os esforços dos integrantes do coletivo de ciclistas MTB Mogi e da Prefeitura que, no ano passado, protocolaram uma justa reivindicação à CPTM no sentido de que autorize a utilização de reduzida faixa da linha férrea para a construção de moderna e segura ciclovia, ligando os Distritos de Jundiapeba e Cezar de Souza, numa distância de 15 quilômetros. Se concretizada, contribuirá demais com a mobilidade urbana em Mogi, oferecendo benefício incalculável para grande parcela da população, nas suas variadas atividades diárias. Reflexos positivos para saúde, economia, meio ambiente e bem-estar social. #MaisCiclovias

Junji Abe, produtor e líder rural, é ex-prefeito de Mogi das Cruzes, na Grande São Paulo


Junji Abe Deputado Federal