Guerra certa, momento errado

Sexta-feira, 20 de Agosto de 2021


#GuerraCertaMomentoErrado – Apesar da dor pela perda de 570 mil vidas, associada ao desemprego e subemprego, na casa de quase 15 milhões, aos preços exorbitantes de alimentos, remédios, aluguéis, transportes, gás e combustíveis; à escalada da inflação; queda no ranking da economia mundial da 7ª posição em 2014 para a 12ª em 2021; ao desespero de 55 milhões de brasileiros que vivem abaixo da linha de pobreza e a outros milhões em situação de rua, lamentavelmente, o governo central só pratica populismo. Implementa políticas públicas equivocadas, arvora-se contra vacina, contra o uso de máscara, contra isolamento social, contra a diversidade (indígenas, LGBTQIA+ e etc...), contra China e chineses; contra a Imprensa e seus profissionais e coleciona outras dezenas de atitudes impróprias que emanam de um presidente autoritário, manchando nosso regime democrático.

A última bravata foi a campanha contra as urnas e o voto eletrônicos. O sistema completa o jubileu de prata neste ano, com serviços de relevância à Nação e à população, com segurança, praticidade, agilidade e economicidade, chanceladas pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE).

Sou um humilde cidadão brasileiro e tenho certeza de que tudo o que é criado pelo ser humano é passível de falhas. Igualmente, tudo pode ser melhorado. Assim é com o voto eletrônico. Fazendo essas considerações, relato o que vivenciei como candidato a cargos públicos, em eleições livres e democráticas.

Nas eleições de 1972, 1982, 1990 e 1994, com voto impresso, as fraudes eram notórias. Não havia fiscalização do TSE e dos Tribunais Regionais Eleitorais (TRE). No dia da eleição, candidatos poderosos usavam milhares de cupinchas remunerados para, até em locais de votação, entregarem aos eleitores cédula impressa falsa, em troca de dinheiro.

Não bastasse, no dia da apuração manual dos votos impressos, havia corruptos pagos pelos poderosos, infiltrados como mesários, além de outras centenas de cupinchas rodeando as mesas apuradoras, com o objetivo de trocar as cédulas oficiais pelas falsas. Aproveitavam a estrutura arcaica, comprometendo a dignidade de candidatos sérios, porém, pobres.

Flagrantes transgressões eleitorais, iniciadas antes da campanha oficial, proporcionavam aos poderosos a compra de votos dos eleitores que, como co-participantes, também se tornavam corruptos, vendendo a alma ao diabo. No dia da eleição, todas as cidades amanheciam com milhares de cabos eleitorais uniformizados para continuar o negócio dos votos comprados. Ao final do dia, os cupinchas recebiam a prometida diária.

A partir de 1996, com o advento das urnas e votos eletrônicos, o panorama mudou, com a gigantesca redução de fraudes e corrupção. Como cidadão e candidato, não mais observei atos da época das cédulas impressas.

Em 10 de agosto, foi rejeitada a Proposta de Emenda Constitucional nº 135/19, que dispõe sobre o voto impresso. Evidente que o voto eletrônico pode e deve ser melhorado. Mas, penso que este não é o momento de desestabilizar nosso sistema eleitoral. Vamos cuidar do que é urgente e fundamental! Sem falácias nem chorumelas. Unidos, venceremos!

Junji Abe, produtor e líder rural, é ex-prefeito de Mogi das Cruzes, na Grande São Paulo


Junji Abe Deputado Federal