Alimentos saudáveis

Deputado prega medidas educativas

Junji diz que Brasil precisa de políticas agrícolas que contemplem pesquisas, assistência técnica e extensão rural para diferentes culturas e regiões brasileiras

07/04/2011


É preciso ajustar o foco da discussão sobre a saúde na produção agrícola: “Antes de punir, é vital instruir quem produz. O Brasil precisa assumir sua responsabilidade com a implantação de políticas agrícolas que contemplem pesquisas, assistência técnica e extensão rural direcionadas às diferentes culturas e às diversas regiões brasileiras”. O alerta foi dado pelo deputado federal Junji Abe (DEM-SP) nesta quinta-feira (07/04/11), durante audiência pública realizada pela Comissão de Seguridade Social e Família para debater a comercialização, fiscalização e utilização de defensivos agrícolas nas lavouras do País e o risco de contaminação dos alimentos e demais produtos.

Contrariando a toada da severa aplicação de penalidades e do culto à agricultura orgânica com a abolição do uso de produtos químicos nas lavouras, Junji foi o único deputado a participar da audiência e defender os produtores rurais brasileiros clamando por medidas educativas no lugar das punitivas. “O agricultor vive daquilo que cultiva. Se o seu produto fizer mal à saúde do consumidor, ele perderá sua fonte de renda. Não existe vilão. O que existe é o descaso do Brasil em investir na qualificação do profissional do campo”, evidenciou.

Com o histórico de quem nasceu no meio agrícola e exerce a atividade até hoje, Junji pertence à terceira geração da família Abe na agricultura, presidiu o Sindicato Rural de Mogi das Cruzes, um dos maiores polos produtores de olerícolas de São Paulo, e integrou a diretoria da Faesp – Federação da Agricultura do Estado de São Paulo por 20 anos seguidos, de 1980 a 2000, além de ter comandado por 10 anos consecutivos a Comissão de Agricultura e Pecuária do Legislativo paulista.

Junji falou na audiência pública após a manifestação do procurador Pedro Luiz G. Serafim Da Silva, coordenador do Fórum Nacional de Agrotóxicos, que apresentou dados das punições aplicadas, e de outros convidados como o diretor da Anvisa – Agência Nacional de Vigilância Sanitária, José Agenor Álvares da Silva, que focou o rigor da instituição na análise, aprovação e fiscalização dos produtos autorizados para comercialização no mercado nacional, além de Aléssio Marostica, da Comissão Nacional de Cereais, Fibras e oleaginosas da CNA – Confederação Nacional da Agricultura, para quem o produtor sempre “acaba pagando o pato”.

Ao fazer uso da palavra, o deputado fez uma dura crítica ao termo agrotóxico utilizado para definir produtos químicos destinados ao combate de pragas e ervas daninhas nas lavouras. “Tóxico é veneno. Fazer esta associação para atingir determinados grupos econômicos não produz nada de positivo. Só passa ao consumidor a ideia equivocada de que ele está comendo veneno”, protestou, completando que, se fosse realidade, o Brasil não teria o franco crescimento dos índices de longevidade.

Ainda em defesa de medidas educativas para melhorar a atividade agrícola, Junji disse que um simples comprimido para dor de cabeça, usado sem orientação ou em dosagem inadequada vira veneno. “Mesmo sendo um medicamento aprovado pela Anvisa, assim como ocorre com os defensivos agrícolas comercializados no mercado”, cutucou.

O parlamentar insistiu que o País está em débito com o setor agrícola como um todo e precisa desenvolver políticas públicas para suprir as deficiências latentes em pesquisa, assistência técnica e extensão rural voltadas às diferentes culturas e localidades onde são produzidas. Junji destacou as características peculiares a cada região produtiva, por conta das variações climáticas, do solo e das condições hídricas. Tudo isto influi no tipo de produto, na dosagem e forma de aplicação recomendados, como apontou o deputado.

Os micro, pequenos e médios produtores sofrem mais porque não dispõem da estrutura organizacional dos grandes que, com larga escala de produção e ganhos, conseguem manter mecanismos próprios de pesquisa e assistência técnica. No Alto Tietê, exemplificou Junji, esforços concentrados de produtores e do Sindicato Rural, vêm permitindo difusão de novas tecnologias com resultados altamente positivos. Ele ponderou que esta não é a realidade para a maioria dos agricultores brasileiros.

“Não podemos ser inimigos uns dos outros. Precisamos trabalhar juntos – profissionais de todas as culturas, de todos os tamanhos, todas as regiões, todas as cadeias produtivas, órgãos técnicos e agentes públicos – para melhorar a qualidade do que é produzido e levado à mesa do consumidor”, apelou Junji, complementando: “Esta é minha missão como homem público”.

O deputado observou ainda que “o sol brilha para todos” e não se pode crucificar os produtores de culturas de extensão – responsáveis pelas commodities que garantem o superávit na balança comercial brasileira –, nem os pequenos que atuam na agricultura familiar e muito menos a classe produtiva intermediária que não recebe qualquer atenção governamental, mas abastece diariamente o mercado interno.

De acordo com Junji, a faixa intermediária agrega as cadeias produtivas de verduras, legumes, tubérculos como a batata, bulbos como a cebola, frutas, aves, ovos, flores e plantas ornamentais. Na definição do parlamentar, são os profissionais do segmento de “hortifrutiflorigranjeiros” que não se enquadram na classificação dada à agricultura familiar, amparada pelo Pronaf, e também não cultivam itens para exportação, como os do setor sucroalcooleiro, citricultura, cafeicultura e sojicultura, entre outros.

Quanto à agricultura orgânica, defendida por participantes da audiência, como Valter Israel da Silva, da Secretaria Nacional do Movimento dos Pequenos Agricultores, Junji foi categórico em afirmar que, se o modelo pudesse ser e fosse adotado nas culturas de extensão, “90% da população mundial morreriam de fome”. A cultura orgânica, segundo ele, não garante produção em larga escala. Além disso, no caso da horticultura, sofre rejeição do consumidor por outros dois fatores: aparência e preço – custam cerca de 30% mais caros que os convencionais.

Presidida pelo deputado Saraiva Felipe (PMDB-MG) e tendo como vice o deputado Padre João (PT-MG), a Comissão de Seguridade Social e Família contou com apenas mais dois parlamentares no evento: Junji Abe e Célia Rocha (PTB-AL).


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Mel Tominaga
Jornalista – MTB 21.286
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