Biritiba Mirim

Saga dos pioneiros

Deputado expressa gratidão aos "bravos guerreiros japoneses" que, há 70 anos, "transformaram a terra nua do Sogo num expressivo polo de produção de alimentos"

18/07/2011


Localizado a cerca de 16 quilômetros de Mogi das Cruzes, a comunidade do Sogo nasceu em 1941, fruto do trabalho e dedicação dos imigrantes japoneses. Na época, Biritiba Mirim ainda era um Distrito mogiano e a emancipação político-administrativa ocorreria 23 anos depois. O único acesso ao local era pelo Bairro do Cocuera, na altura km 12 da Rodovia Mogi-Salesópolis (SP-88). A simplória estrada tinha dimensões para o tráfego de carros de boi que, transportando lenha e carvão, cruzavam o Rio Biritiba, num percurso de encostas e várzeas que se tornava impenetrável na época de chuvas.

Quem conta a história é o deputado federal Junji Abe (DEM-SP), mogiano que conhece como poucos cada palmo das cidades do Alto Tietê. Com um histórico de mais de 40 anos como líder rural, pertence à terceira geração da família Abe na agricultura. Profundo conhecedor do agronegócio e da mecânica de atuação de cada elo das cadeias produtivas, o parlamentar coleciona conquistas obtidas em favor do setor ao longo das duas décadas seguidas, de 1980 a 2000, na presidência do Sindicato Rural de Mogi das Cruzes e na diretoria da Faesp – Federação da Agricultura do Estado de São Paulo; somadas aos três mandatos como deputado estadual, eleito e sucessivamente reeleito presidente da Comissão de Agricultura e Pecuária da Casa.

Com o objetivo de driblar as dificuldades de locomoção, prosseguiu Junji, os pioneiros japoneses conseguiram do dono da Fazenda Irohy, senhor Tibério, autorização para abrir, depois do Rio Biritiba, um acesso chamado, na época, de Estrada da Sogo. Na gestão Franco Montoro, em 1986, a via receberia asfalto viabilizando melhor escoamento da produção agrícola.

As famílias japonesas Kimura e Tuda estavam entre as primeiras a arrendar terras no Sogo para o cultivo de hortaliças. Era 1941. Quatro anos mais tarde, chegariam os Aota, Maehara, Takumi, Waki e Takaki, além do imigrante português José Maria, também para atuar no plantio de verduras, o que elevou a produção. “Juntos, foram a base da colonização do Sogo e tiveram de vencer dificuldades extras advindas da Segunda Guerra Mundial”, relatou o deputado.

O cultivo em várzeas ocorre desde a chegada dos primeiros imigrantes e concentra a maior parte da produção local. “O solo é turfoso, riquíssimo e ideal para hortícolas como alface, agrião, escarola, rúcula, beterraba e cenoura, entre outras”, explicou Junji, antes de iniciar o discurso para a plateia de mais de uma centena de pessoas que prestigiava a comemoração do 70º aniversário da colonização japonesa do Bairro, promovida pela Associação Agrícola, Desportiva e Cultural do Sogo.

Menos de uma década depois de instalados na área, os imigrantes iniciaram um movimento para constituir uma associação nipônica (Nihonjinkai, em japonês) com o objetivo de implantar uma escola de Língua Japonesa – concretizado em 7 de outubro de 1950. “O fato confirma a importância dada pelo povo japonês à educação. Era ponto de honra. Além de aprender o Português, os descendentes tinham obrigação de ler, escrever e conversar no idioma dos seus ancestrais”, pontuou o deputado.

Junto com a associação e a escola, os japoneses idealizaram e difundiram um conceito: transformar a área num recanto ideal de trabalho, pautado pela harmonia e cooperação. Assim, o bairro foi rebatizado como “Sogo Shokuminti” – Colônia da Reciprocidade, em português, como contou Junji, acrescentando que a unidade escolar exigiu grande esforço dos jovens que extraiam da mata toras de madeira para erguer a estrutura.

Embora pequena e simplória, a escola tornou-se o grande orgulho da comunidade que, até então, “amargava o sofrimento de ver seus filhos crescerem sem estudos” porque, segundo Junji, só havia unidade de ensino convencional no núcleo urbano de Biritiba Mirim – inviável para frequência diária. “Os pais sentiam um enorme alívio ao terem suas crianças estudando todos os dias. Isto reacendeu os ânimos e revigorou as esperanças para os desafios que haveriam de enfrentar”.

A mobilização comunitária avançou e, em 1951, foi criado o Senenkai, o Departamento de Jovens da entidade, que deu início às atividades sociais e esportivas para envolver as crianças com a cultura e tradições típicas do Japão. Quatro anos depois, complementou o deputado, a produção de verduras e legumes no Sogo ganharia reforço com a chegada de mais de dez famílias de japoneses vindas do Paraná.

Segundo Junji, o crescimento da comunidade e expansão das atividades agrícolas levaram a Prefeitura de Mogi das Cruzes a realizar, pela primeira vez, melhorias na Estrada do Sogo, que recebeu alargamento, drenagem e cascalho. Em 11 de dezembro de 1960, seria inaugurada a sede da Associação, viabilizando forte incremento sócio-cultural, com peças teatrais, cinema, palestras e reuniões. O deputado observou que o fato selou a união dos moradores, além de fortalecer o espírito comunitário e a solidariedade.

No ano de 1966, o Bairro do Sogo festejaria a chegada eletricidade, por meio da Cooperativa de Eletrificação Rural de Salesópolis e graças ao esforço da diretoria da Associação. O parlamentar esclareceu que se tratava de um sistema cooperativo de eletrificação, idealizado pelo DAEE – Departamento de Águas e Energia Elétrica e administrado pelos próprios agricultores.

A infraestrutura básica do Bairro se completaria, em 1974, pelas mãos do próprio Junji, então, vereador mogiano e presidente-fundador da Cooperativa de Telecomunicações de Mogi das Cruzes. Foi o primeiro sistema cooperativo de telefonia rural do País, que garantiu a implantação de terminais telefônicos em quatro cidades da Região, incluindo a já emancipada Biritiba Mirim.

Recepcionado pelo presidente da Associação Agrícola, Desportiva e Cultural do Sogo, Iwao Hamaguchi, Junji discursou em japonês para facilitar a compreensão de veteranos da comunidade. Rememorando os principais fatos que marcaram o nascimento e evolução da comunidade agrícola, ele comoveu integrantes da diretoria da entidade.

O deputado fez questão de expressar “toda gratidão aos bravos guerreiros japoneses que transformaram a terra nua num expressivo polo de produção de alimentos, assim como também edificaram a prova de que a ajuda mútua, a solidariedade e o espírito comunitário superam qualquer dificuldade”.

A solenidade incluiu homenageados especiais, como o ex-presidente da Associação, Tsuyoshi Okada, e o veterano Toshiro Fuzita. Também participaram do evento no domingo (17/07/11) o prefeito de Biritiba Mirim, Carlos Alberto Taino Júnior, o Inho (PSDB), o vice-prefeito José Cury (PSDB), o presidente da Câmara local, Donizeti Siqueira (PR), o vereador mogiano Pedro Komura (PSDB), o delegado titular da Polícia Civil Francisco Del Poente, a Irmã Rosa, representando a Pastoral Nipo-Brasileira da Comunidade Santo Antônio, Frank Tuda e Tomaz Hideo Yamaki, representantes dos deputados federal Walter Ihoshi (DEM) e estadual Luiz Carlos Gondim (PPS), respectivamente, entre outras autoridades e lideranças comunitárias.

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Mais informações:

Mel Tominaga
Jornalista – MTB 21.286
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