Comissão de Segurança

Carvalho volta a negar denúncias

Segundo Junji, depoimento do ministro termina deixando dúvidas em relação às acusações de uso político da Secretaria Nacional de Justiça e de privilegiar o MST

10/04/2014


O ministro da Secretaria-Geral da Presidência da República, Gilberto Carvalho, passou por uma sabatina na CSPCCO – Comissão de Segurança Pública e Combate ao Crime Organizado da Câmara, onde foi convocado a prestar esclarecimentos sobre as denúncias do ex-secretário Nacional de Justiça, Romeu Tuma Júnior, de uso político do órgão, entre outras, como a concessão de privilégios ao MST – Movimento de Trabalhadores Rurais Sem-Terra. “Foram mais de quatro horas do depoimento em que ele negou tudo, sofreu novas acusações e deixou a Casa sem ter convencido os parlamentares quanto à conduta idônea do governo”, sintetizou o deputado federal Junji Abe (PSD-SP), membro titular do colegiado.

Em entrevista concedida à Revista Veja, em dezembro último, o ex-secretário Nacional de Justiça no governo Lula afirmou que a estrutura do órgão é utilizada com fins políticos para a elaboração de dossiês falsos contra políticos da oposição, como o ex-senador e atual governador de Goiás, Marconi Perillo. De acordo com ele, em vários casos, “o Ministério da Justiça recebia um documento apócrifo, um dossiê ou um informe qualquer sobre a existência de conta secreta no exterior em nome do inimigo a ser destruído” e abria imediatamente uma investigação oficial, posteriormente dando a dica sobre o caso a um jornalista. Estas e outras acusações também constam do livro de autoria de Tuma Júnior.

Questionado sobre o tema, em audiência nesta quarta-feira (09/04/2014), Carvalho negou as acusações de que teria encomendado dossiês contra inimigos políticos do governo. Ele disse que não considera essa uma estratégia adequada de luta política. Em seu livro, Tuma denunciou mais: acusou o ministro de ter levado dinheiro de empresários de Santo André para o ex-ministro da Casa Civil, José Dirceu. De novo, Carvalho negou.

Diante da manifestação, deputados quiseram saber do ministro porque ele ainda não processou o ex-secretário de Segurança Pública do Ministério da Justiça por calúnia. “Afinal, são denúncias muito sérias porque apontam o uso da estrutura oficial do Estado para fins adversos aos de sua competência, sem contar a acusação de extorsão”, observou Junji, lembrando que Tuma Jr. já disse estar pronto para provar tudo o que colocou em seu livro.

Respondendo aos parlamentares, O ministro afirmou que processará Tuma Júnior quando for conveniente e que não "dará palanque" para o ex-secretário. “É uma postura, no mínimo, estranha. E o pior: não sepulta as dúvidas que temos sobre a veracidade das denúncias”, comentou Junji, compartilhando da opinião dos deputados Alexandre Leite (DEM-SP) e Otávio Leite (PSDB-RJ).

Quanto ao eventual favorecimento ao MST, o ministro declarou que faz parte de suas atribuições a interlocução com os movimentos populares e entende que é preciso reagir à criminalização dos movimentos sociais. O esclarecimento das políticas do governo e também tentar reduzir o número de conflitos faz parte da democracia, segundo Carvalho. Ele disse que só há duas formas de responder aos movimentos sociais: a repressão, como ocorreu durante a Ditadura Militar, ou a negociação.

Os parlamentares questionaram seu apoio ao evento promovido pelo MST, em fevereiro, em Brasília, e também sua atuação em conflito com a polícia. O deputado Nilson Leitão (PSDB-MT) acusou o governo de ter estimulado uma invasão do STF – Supremo Tribunal Federal pelo MST, em represália pelas condenações no processo do Mensalão. Gilberto Carvalho respondeu que o governo não teria a leviandade de promover a invasão do STF.

Em relação ao conflito que deixou feridos dos dois lados (PM e MST) na Praça dos Três Poderes, o ministro creditou a violência a um erro de informação. Ele explicou que recebeu o MST e, quando os trabalhadores começaram a retirar cruzes para espalhar pelo local, a PM entendeu que estaria havendo a distribuição de porretes para enfrentar a polícia e avançou.

Segundo o deputado Ronaldo Caiado (DEM-GO), é um absurdo o ministro declarar que houve erro da Polícia Militar ao reprimir a manifestação em frente ao Planalto e também ter acusado a PM de truculência ao conter o protesto. “É evidente que o MST provocou o confronto. Tanto, que houve 30 soldados feridos e apenas dois atingidos do outro lado.” Carvalho acrescentou que jamais criticou a PM do DF. Limitou-se a dizer que houve um problema de informação que causou o conflito.

Caiado acusou o ministro de ter cometido crime ao apoiar a destinação de verbas publicitárias para uma feira agroecológica realizada durante o encontro do MST. Carvalho disse que deu sua opinião em um comitê formado na Presidência para sugerir a destinação dos patrocínios das estatais. Ele defendeu que é importante apoiar a produção familiar, assim como o governo também patrocina exposições do agronegócio.

Extorsão
Ainda na audiência promovida pela CSPCCO, a deputada Mara Gabrilli (PSDB-SP) acusou o ministro da Secretaria-Geral da Presidência da República, Gilberto Carvalho, de ser o "homem do carro preto" na prefeitura do petista Celso Daniel, em Santo André.

Segundo a deputada, seu pai, dono de empresa de ônibus na Cidade, era extorquido por integrantes do PT. Esse dinheiro seria levado pelo "homem do carro preto" ao ex-ministro José Dirceu. Ela disse ainda que o prefeito foi assassinado logo após ter prometido acabar com aquele esquema.

Gilberto Carvalho disse que a morte de Celso Daniel lhe doía pessoalmente. Ele esclareceu que a investigação foi feita pela Polícia Civil, do governo do PSDB. Segundo o ministro, o PT pediu que houvesse empenho e independência na investigação e que também foi o próprio partido que pediu que a Polícia Federal entrasse na investigação.

O ministro lembrou que foi a PF que prendeu os acusados da morte de Daniel. Ele relatou que já foi questionado sobre essas acusações em CPI no Congresso e acareado com os irmãos de Celso Daniel, além de ser vítima nesse processo porque perdeu seu amigo. O deputado Delegado Protógenes (PCdoB-SP) atestou que durante a investigação sobre o assassinato do prefeito Celso Daniel, em nenhum momento, houve qualquer suspeita envolvendo o ministro.

A denúncia de que Carvalho participaria de um esquema de corrupção em Santo André, baseado em desvio de dinheiro para entrega a José Dirceu, também consta do livro de Tuma Júnior. Segundo Junji, o ex-secretário Nacional de Justiça também foi convidado para falar na comissão. “Vamos aguardar para ver se conseguimos juntar as pontas soltas”, observou o deputado.


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Mel Tominaga
Jornalista – MTB 21.286
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