A instalação de um grande canil em Mogi das Cruzes, projetado aos moldes do Abrigo Piccolina, em Avaré, no interior paulista, é o objetivo de entidades protetoras dos animais no Alto Tietê, que estão empenhadas em solucionar o grave problema da falta de acomodações para acolher o enorme número de cães abandonados nas ruas, enquanto aguardam a oportunidade de um novo lar. Trazida ao deputado federal Junji Abe (PSD-SP) por Ralf Naure, da ONG Adote Já, a ideia promete evoluir com o apoio do parlamentar que sugeriu uma PPP – Parceria Público-Privada para viabilizar o empreendimento.
A concretização do abrigo, como informou o deputado, poderia ser efetivada com a participação do governo federal, da Prefeitura, da iniciativa privada e de um grupo gestor do empreendimento constituído pelas entidades protetoras dos animais. “Além de verbas públicas para a construção, seria possível sensibilizar o empresariado a colaborar já que os donativos são dedutíveis do Imposto de Renda”.
Junji afirmou que está a postos para batalhar junto ao governo federal pela liberação de recursos financeiros para o projeto, assim como de repasses mensais para bancar parte dos custos de manutenção. Contudo, é necessário que as instituições protetoras dos animais viabilizem uma parceria com a Prefeitura de Mogi das Cruzes que poderia ceder a área para o abrigo e receber as verbas federais para destinação ao grupo gestor do futuro abrigo.
“A organização da classe é o ponto de partida para o sucesso dessa empreitada e também de qualquer ação em benefício dos animais, inclusive o trabalho para frear a crueldade praticada por gente má”, orientou Junji, que recebeu o representante da ONG Adote Já, nesta terça-feira (24/01/2012).
De acordo com o deputado, as entidades protetoras dos animais ainda carecem de representatividade junto ao Congresso Nacional. “Não por menos, vira e mexe, aparecem em Brasília projetos espúrios que tentam eliminar ou reduzir os já insuficientes instrumentos de salvaguarda dessas criaturas indefesas”, alertou Junji. Ele sugeriu a Naure que coordenasse um movimento para constituição formal de uma associação estadual e, posteriormente, nacional de proteção animal, que possa agregar todas as organizações ligadas à causa, concentrando e fortalecendo a atuação da categoria no Brasil.
A representatividade formal da classe no País garantirá força às bandeiras em defesa dos animais e também pressionará os políticos a atuarem em favor da causa, como apontou Junji, citando como exemplo o setor industrial, representado em nível estadual pela Fiesp – Federação das Indústrias do Estado de São Paulo e, em âmbito nacional, pela CNI – Confederação Nacional das Indústrias.
Segundo o parlamentar, muitas questões de grande relevância social não recebem o devido tratamento das autoridades constituídas por falta de representatividade de classe. “Apesar do valoroso trabalho e dedicação de ONGs protetoras dos animais, as ações ficam dispersas e correm o risco de perder o fôlego no meio do caminho. Quanto melhor organizadas estiverem as entidades, agregadas em uma nave-mãe, maior será seu poder de fogo”, observou Junji, ao focar a importância da capacidade de mobilização nacional de uma categoria em torno de determinada causa.
Naure concordou com o deputado quanto à necessidade de revitalizar a organização da classe de protetores de animais. Ele também ficou encarregado de levar a ideia do abrigo à Prefeitura de Mogi das Cruzes. Junji explicou que tem, por critério, solicitar recursos financeiros à União em nome das cidades a fim de que as administrações municipais providenciem os repasses às instituições.
Com todo respeito às instituições sérias, pontuou ele, trata-se de medida preventiva para evitar eventuais questionamentos sobre a correta aplicação das verbas, porque já houve denúncias de corrupção envolvendo destinações diretas a entidades.
Entusiasmado com a ideia do empreendimento para acolher cães enquanto aguardam adoção, Junji disse que gostaria de formar uma comissão para visitar o Abrigo Piccolina, em Avaré. “Pelo que vi no site da instituição, o projeto é viável não só para Mogi das Cruzes mas também para outros municípios onde também haja entidades protetoras dos animais atuantes e dispostas a levar adiante um trabalho do gênero”.
O drama
Entre os muitos trabalhos desenvolvidos pela ONG Adote Já em defesa dos animais, está a tradicional feira de adoções realizada nos finais de semana. Apesar dos esforços, o número de animais recebidos pela instituição é muito superior ao de famílias dispostas a proporcionar um novo lar para os bichinhos abandonados.
“É doloroso. Pessoas chegam a abandonar ninhadas inteiras em caixas de papelão”, relatou Ralf Naure, contando que a grande maioria de animais aparece subnutrida, com doenças e severas marcas de maus tratos. A ONG conta com a ajuda de voluntários, incluindo veterinários, que cuidam das vítimas de abandono até estarem saudáveis para serem oferecidas à adoção. No entanto, observou ele, a capacidade de acomodação é restrita, o que justifica a necessidade de um abrigo apropriado.
Naure disse que procurou o deputado federal Junji Abe (PSD-SP) por reconhecer sua atenção à causa dos animais. Além de apoiar ações voltadas à defesa dos bichinhos, manifestar publicamente o repúdio à violência e engrossar movimentos relacionados à proteção dos animais, o parlamentar desenvolveu um importante trabalho em Mogi das Cruzes, ao longo de suas duas gestões como prefeito (de 2001 a 2008).
O representante da Adote Já lembrou que Junji assumiu a Prefeitura em 2001, quando a administração municipal não tinha um único médico veterinário. Como prefeito, prosseguiu Naure, o deputado revolucionou o setor de zoonoses, instalando em Mogi um CCZ – Centro de Controle de Zoonoses dotado de tecnologia de ponta e classificado como um dos mais modernos do País. Inaugurada em 2006, a estrutura possibilitou, por exemplo, a inédita campanha de esterilização gratuita de cães e gatos, além da vacinação antirrábica em massa.
Abrigo modelo
Localizada a 263 quilômetros da Capital paulista, a Estância Turística de Avaré, é a sede do Abrigo Piccolina, criteriosamente planejado para acolher os cães abandonados, que recebem tratamento e cuidados até conseguirem um novo lar. Considerado modelo do gênero, segundo Ralf Naure, da ONG Adote Já, o empreendimento inspira o projeto defendido pelas entidades protetoras dos animais de Mogi das Cruzes e Região.
Construído e equipado pela iniciativa privada numa área de 15 mil metros quadrados (m²), o Abrigo Piccolina é uma entidade sem fins lucrativos, considerada de interesse público desde 2004, e mantida com donativos do setor privado. A instituição já retirou das ruas quase mil cães vitimados pelo abandono, providenciou centenas de castrações e de tratamentos clínicos e cirúrgicos, além de encontrar lares responsáveis para cerca de 300 animais. Outros 320 permanecem no canil.
Três blocos interligados formam o complexo. No primeiro, funciona a estrutura de apoio, com sala de administração, centro veterinário para consultas, internações e cirurgias, sala de banho e tosa, cozinha, depósitos para ração, produtos de higiene e limpeza e equipamentos, vestiários para funcionários e voluntários e a zeladoria.
Nos outros dois blocos da construção estão os canis. Cada edificação contém 30 baias com 25 m² por unidade, dotadas de parte coberta e outra descoberta o que possibilita ao animal escolher ficar ou não ao ar livre.
Ventilação permanente e praticidade na limpeza são as principais características dos canis. Cada um acomoda de um a cinco animais, distribuídos por tamanho, sexo ou afinidade. Os pátios são forrados por areia, o que permite melhor higiene e
reduz a incidência de reinfestação por parasitas. Na grande área livre são realizados os passeios monitorados para exercitar e desestressar os cães.
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